Souvenir #6 – Paralelo entre as fronteiras da vida e do mundo
E um pouco da minha experiência na terra do Papa Francisco
Sinto uma mistura de amor e ódio ao fazer fronteira entre países (eu sei, isso é muito white people problems, mas tem um propósito aqui, eu juro). Nos últimos meses, vivemos algumas vezes a experiência de cruzar de um país para outro por terra. E toda vez que vamos passar uma fronteira com o motorhome parece que estamos fazendo algo errado e eu me sinto péssima, ansiosa e nervosa.
Mas, como em um passe de mágica das viagens, minutos (ok, horas) depois, passaporte carimbado e um sorriso no rosto, de orelha a orelha. Altos e baixos numa velocidade bem maior do que a que conseguimos colocar na van.
Depois de tantos desses momentos de nervosismo, em uma das minhas reflexões viajadas, percebi que essa situação é uma grande imitação da vida em si. Quando ultrapassamos as fronteiras do que é conhecido e familiar, sentimos algo estranho, uma mistura de sensações. Seja aquela adrenalina fascinante ou aquele medo e ansiedade, que no meu caso se manifestam na forma de falta de ar. Ou tudo junto e mais um pouco, ao mesmo tempo. Eita.
Adentrar-se no desconhecido é ultrapassar fronteiras. Seja na vida ou entre países. Dá quase no mesmo. Em ambos, o que vale são as novas experiências que a coragem e ousadia de seguir em frente podem nos apresentar.
Nas últimas semanas, nos despedimos da Argentina, seguindo viagem pela América do Sul. Mais uma vez, passamos algumas semanas no Chile e agora finalmente chegamos no Peru.
Quanto mais quilômetros acumulamos no odômetro da nossa van, mais eu percebo que ter passado um tempo na terra dos hermanos foi uma escolha acertada de começo para nós. Duas pessoas praticamente inexperientes no quesito viagens internacionais e, para completar, um pet na bagagem. A Argentina foi uma excelente anfitriã, dessas que recebe com chá (mate, claro) e um pãozinho quentinho pra acompanhar.
Pisamos nessa terra (eu, pela primeira vez) em outubro de 2022. Entre idas e vindas ao Chile, a Argentina foi nossa casa até abril de 2023.
Pra ser sincera, chegamos ao país bastante receosos, de tanto que encheram nossa cabeça sobre a crise política e econômica do nosso vizinho. Realmente, eles venceram a copa de 2022, mas estão longe de viver o seu melhor momento. Apesar disso, eu posso dizer que nós vivemos vários dos nossos melhores momentos ali.
Entre os simpáticos argentinos, as cidades grandes e as minúsculas vilas, neve, praia, lago, sol, pinguins e guanacos, nos sentimos seguros e, principalmente, bem-vindos. Nos acostumamos com as idas ao mercado, com os produtos argentinos, com o sotaque porteño, com o frio e as águas geladas, dentre tantas outras novidades que o país nos proporcionou.
Aprendemos a comprar a água potável das marcas boas, a contar dinheiro em pesos e a hablar um pouco de seu espanhol, que figura entre os mais difíceis da América do Sul. Aprendemos a jogar conversa fora com os hermanos, que muitas vezes nos abordavam só porque temos a cachorrinha mais linda do mundo.
Descobrimos que Natal, no Rio Grande do Norte, é uma cidade popular entre os argentinos, que não conhecem o estado do Espírito Santo, obviamente. “Una província cerca de Rio de Janeiro”, logo aprendemos a explicar. Foi a forma que encontramos de apresentar as nossas origens. Infelizmente, nem todas as pessoas tiveram a sorte de conhecer o Convento da Penha, mas quase todo mundo já ouviu falar no Cristo Redentor ou no carnaval carioca, por isso a referência.
De motorhome, conhecemos mais províncias na Argentina do que estados no Brasil. 13 no total, das 23 existentes. Buenos Aires, Ushuaia, El Calafate, Bariloche e Mendoza são algumas das cidades mais conhecidas entre os brasileiros. Porém, a lista do que o país tem a oferecer é bem mais extensa do que isso.
Foram dias e mais dias bem vividos, uma mistura de intensidade e calmaria. Tivemos dificuldades, claro. Mas, não foi impactante ou assustador, foi muito confortável. Quem diria? Viajar pela Argentina foi suave, fácil de se acostumar.
E assim, seguimos na estrada. Na bagagem, um espanhol enrolado, alguns vinhos, alfajores e muitas boas lembranças.
🧩 Agora é sua vez…
Como você explicaria onde fica o seu estado ou cidade de origem para um argentino?
💡 Inspire-se…
Quanto à sua pergunta, nunca tive problemas de explicar minha cidade no Brasil - a do Cristo Redentor rs Mas já tive a sorte de visitar, sim, o Convento da sua "província" várias vezes até porque já morei em Vila Velha e sempre volto lá! Aproveite p/ divulgar essa terrinha boa "cerca do Río" por aí que ela merece. E parabéns pelos relatos quase em tempo real! vc deve estar perto do Titicaca... É uma boa pedida por aí!
Que lindo! Amei o texto e a forma linda que faz um paralelo com a própria vida. Que essa próxima fase seja cheia de frio na barriga e sorrisos logo depois (sensação boa essa né?)