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A maior parte dessa edição foi escrita na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. Depois de uma manhã chata de oficina mecânica, minha tarde de ontem foi de estrada, um mirante, um pouco de ócio e saudosismo.
Imagina só, em plena segunda-feira à tarde, você recebe uma mensagem de alguém querendo bater papo. Aí você pensa: só pode ser uma desocupada mesmo, né. Carente, eu diria.
Para mim, o dolce far niente nem sempre é doce.
Viajar de motorhome, sem dúvidas, exige um esforço maior para interagir com outras pessoas. E é uma roleta russa, suas chances não são garantidas — nem todo mundo quer bater papo e fazer amizade. Nessas horas, eu sempre fico com um pé atrás, desconfiada (capixaba até a unha do mindinho).
Aprendi que no código de conduta do motorhomeiro, a porta do carro-casa aberta é a mensagem de que a pessoa está disposta a interagir. Se colocar a cadeirinha de camping para fora então, é sinal de que a conversa vai ser boa e longa.
Na realidade, não é todo dia que você encontra pessoas assim. Até mesmo porque você está em constante movimento. E se a outra pessoa viaja, ela também está em movimento. Como diz uma querida amiga “os planetas precisam se alinhar” para roteiros, planos e gostos baterem.
E, fora do país, não é todo local que quer fazer amizade com gringo, diferente do brasileiro recebendo estrangeiro. Muitos são desconfiados, parecem até capixabas. Ou, talvez, essa seja só a minha percepção por eu ser um pouco cismada.
Não me considero tímida, mas na hora de puxar conversa e falar com desconhecidos, eu pareço um bichinho assustado. Não sou boa nisso, o que só dificulta a interação com as pessoas pelo caminho. Confesso que ao admitir isso me sinto uma alienígena, porque a maioria dos viajantes adora se mostrar como uma pessoa easy-going, faz amizade fácil e quer ser melhor amiga de todo mundo. Eu não sou assim, até seria legal se eu fosse, mas totalmente fake da minha parte.
Em português, a expressão easy-going pode ser traduzida como flexíveis, de trato fácil com as quais é cômodo se relacionar. Todos temos em mente alguém assim: dão bom dia com um sorriso sincero, se oferecem e ajudam, falam com tom e volume de voz moderado, são discretos e é bom estar com eles. (Matéria antiga do El País sobre como Ser alguém de trato fácil abre portas — risos, ou lágrimas)
Viajar de motorhome pode ser uma mistura de solidão e solitude. Às vezes bom, às vezes nem tanto. Não é tão fácil criar conexões reais e duradouras quando se está em constante movimento. Esse foi um dos pontos negativos que listei sobre o sabático estilo vanlife na edição 10. E, então, quando seu caminho cruza com pessoas dispostas a trocar, você dá mais valor àquilo do que imaginava.
Conversar, dividir momentos, compartilhar histórias, tudo isso se torna tão valioso quanto os lugares incríveis pelos quais passou. Talvez até mais, ouso dizer.
Viajar é uma das minhas prioridades na vida, hoje tenho ainda mais certeza disso. Mas, esse último ano me mostrou também que esse lado das relações humanas persiste em me fazer querer voltar para as minhas pessoas no mundo. Não sou menos viajante por isso.
Tive o privilégio de conhecer lugares lindos, ver paisagens magníficas, bichos, montanhas, lagos e pores do sol inesquecíveis. Mas, os dias que mais me deixaram nostálgica são os que me trouxeram amigos. Gente que eu conheci por um breve momento, mas que fizeram toda a diferença nessa jornada de viajante.
As pessoas continuam sendo a melhor “atração”.
Ter entendido qual é, para mim, a real importância da conexão com pessoas talvez me faça buscar uma nova forma de viajar. Não sei.
Estou no caminho de volta. Em algumas semanas estarei olhando para a vista que eu mais amo no mundo — a orla de Vitória pelo alto da terceira ponte. Tenho tentado (provavelmente, sem sucesso) não criar muitas expectativas para os encontros que aguardo ansiosamente: minha família, meus amigos, meus lugares. A moqueca capixaba do meu padrasto — a melhor do mundo.
Escrevi tudo isso para dizer que o ócio me deixa saudosa e um pouco carente de gente. Enquanto viajo, às vezes me vejo sentindo falta da minha terra. Talvez, quando eu estiver lá na minha terra eu me torne pura nostalgia na viagem.
O ser humano é peculiar mesmo, né?
(para não dizer idiota, às vezes)
💡 Inspire-se…
A
, uma baiana que vive viajando desde 2012, compartilhou na última edição da sua newsletter o motivo de ela sempre voltar pra casa. Me identifiquei demais.Hoje, 25 de julho, é o Dia Nacional do Escritor. E o meu presente do dia foi ler a edição de hoje da
. Escritora enrustida que sou, senti que o texto era para mim. Como ela escreveu, um sinal.Outro presente foi ter chegado ao marco de 50 inscritos na minha newsletter. Na verdade, 51. (Fernanda e Eduardo, obrigada — vocês foram o 50 e 51 na minha lista). E, gente, eu estou radiante com isso. Aos trancos e barrancos, hoje chegamos à 15ª edição em 16 semanas (pulei uma semaninha, mas finge que ninguém viu). Deixo aqui, caso você não tenha visto, as duas edições mas lidas:
Eu tive uma fase de escrever poemas de aniversário e datas especiais para as minhas amigas. Isso mesmo, poeminhas. Rimas pobres, claro, mas com um pouco de graça e muito afeto. Tô aqui pensando se compartilho algum por aqui na próxima edição 👀
Se você quer deixar o seu apoio, mas é tímido para comentar, perceba que tem um coraçãozinho lá embaixo 🤍, no fim desse conteúdo. Se você curtiu o meu texto, aperta ali para eu saber que você leu e gostou. É sempre bom receber um incentivo de quem está aqui me lendo.
Ah, super te entendo!
Eu não sou viajante (amaria ser, inclusive), mas me mudei bastante nos últimos 5 anos. Mudei de estado e quando comecei a criar conexões (sou lenta nisso, confesso), mudei de cidade. Quando comecei novamente a criar laços, saí do emprego e vim para o home office. Eu também tenho certa dificuldade em criar conexões, começar conversas então, se eu fosse uma viajante, esse seria realmente um problema pra mim. Já é, e olha que eu estou há bem mais tempo por aqui, rs.
Sinta-se abraçada!
Bjs
E feliz dia do escritor! Orgulho desse passo que está dando compartilhando esse tanto de reflexão legal!