Souvenir #11 - Surpreenda-se
Não foi o vinho, mas sim falta de expectativa que me fez amar Mendoza
Tempo de leitura: 4 minutos, aproximadamente :)
Minha viagem está chegando ao fim.
Ainda ficarei mais alguns dias no Peru, o último país antes de voltar ao Brasil. A cada dia que passa, a nostalgia vai sendo adicionada em doses homeopáticas a essa montanha-russa de sentimentos que tem me acompanhado.
Não levo muitas coisas materiais dos lugares por onde passei. Mas, as lembranças, ah, essas eu tenho muitas. Não foi à toa que resolvi dar o nome de Souvenir a essas newsletter (do francês, memória).
Com sorte, posso dizer que foram várias as cidades que conheci e que marcaram meu último ano. Algumas delas eu nem sequer havia ouvido falar. Outras, eu não tinha aquela vontade desesperada de conhecer. Apesar de ser uma queridinha entre os brasileiros, Mendoza, na Argentina, foi uma dessas que eu não dei muita bola.
Eu subestimei Mendoza.
Por sem uma cidade “grande” e bastante turística, antes mesmo de chegar, já me vesti de preconceitos. Pronta para julgar e desdenhar o destino famoso por seus vinhos. Que coisa feia.
Uma conjunção de fatores fez Mendoza ficar marcada na memória de uma forma tão positiva. Acho que a principal foi a falta de expectativas.
Outro fato que ajudou foi que essa cidade foi o destino eleito (sabe-se lá o motivo) para o encontro com um grupo de amigos, para curtimos alguns dias juntos, bebendo vinho bom e barato. Ah, os amigos. Eles fazem toda a diferença. Sou muito sortuda.
Sem muito para onde fugir, me permiti ser turista nesses dias com meus amigos, algo que não é tão frequente, afinal não estou de férias e não faz sentido viver como se estivesse (e nem faz parte do orçamento). Claro, o bolso sentiu um pouco, mas valeu cada peso argentino. Nesses momentos, eu me lembro que às vezes é bom demais ser turista.
Mendoza é charmosa. Me senti numa cidade cultural, um pouco poética e controversa. Bares lotados de jovens da geração tiktok. Cafés distribuídos por quase todas as esquinas. Com um parque municipal que mais parece um bairro inteiro, habitado por inúmeras árvores e muito verde, nem parece ser uma região tão conhecida por sua aridez. Até dança das luzes você encontra por lá.
Uma quantidade extravagante de praças, que me lembraram o bairro onde cresci. Adoro me localizar por praças. Lojas e mais lojas de vinhos. Restaurantes “granfinos”, cheios de brasileiros falando alto, alegres, se sentindo ricos por (finalmente) encontrarem um país em que o real é valorizado (nós estávamos nesse grupo - bom pra gente, péssimo para os argentinos infelizmente).
Uma cidade extremamente planejada, e não podia ser diferente depois de ter sofrido com tantos terremotos, um que inclusive destruiu quase toda a cidade. Ainda assim, Mendoza cede espaço aos imprevistos e aos encontros, à agitação e à tranquilidade. Conhecemos uma senhora da Europa no free walking tour que também tem um motorhome, mas estava viajando sozinha pela América do Sul - o tipo de aposentadoria que eu quero. Numa vinícola, conhecemos uma família que estava celebrando o casamento de uma filha com um alemão. Ou seria um holandês? Um sueco, talvez. Não me lembro direito, a quantidade de vinho embaçou essa memória.
Mendoza tem de tudo um pouco. E eu fiquei feliz de ter sido surpreendida. Meus (pré)conceitos sobre as cidades grandes foram estremecidos por esse lugar, que eu jamais imaginei que ficaria guardado com tanto carinho na memória.
E quantas memórias. Meu amigo cumprimentando o porteiro do Airbnb com um “joinha” acompanhado de um alegre “cumpleaños” foi o melhor “oi” que já ouvi na vida. Os clientes da vinícola tentando ser chiques sem sucesso - todos com a boca roxa no grande gramado dançando Bella Ciao ao som de um saxofone. As ruas, os cafés, os restaurantes. As melhores medialunas da Argentina.
Assim se resumem os 17 dias que passei aproveitando uma pequena fração do tanto que essa cidade tem para oferecer.
✍🏽 Notas
Mendoza tem somente cerca de 115 mil habitantes, numa área de 57 km² (só vendo esses dados vejo como meu conceito de cidade grande mudou). No entanto, ao seu redor, estão outras cidades, quase formando uma “Grande Mendoza”, então ela parece ser ainda maior do que é.
Não se engane como eu me enganei. Mendoza é muito mais que um lugar para os amantes dos vinhos. A barragem de Potrerrillos é um lugar lindo para quem gosta de curtir o dia na beira da água. E a estrada até o Parque Aconcágua foi uma das mais lindas que passamos.
Um barzinho de esquina despretensioso chamado Belina ganhou nosso coração, meu e dos meus amigos. Fomos mais vezes a esse bar do que nas vinícolas espalhadas pela região, o que, para mim, é uma linda ironia.
💡 Inspire-se…
A Camila Gregurincic tem alguns guias no Google Maps com cafés e restaurantes pelo mundo, incluindo Mendoza, onde ela cita 21 lugares, com comentários e recomendações. Também estão nos guias cidades como Buenos Aires, Bogotá, Cidade do México, São Paulo e muitas outras.
Essa não é a primeira vez que escrevo sobre o quanto eu curti a Argentina. Compartilhei um pouco nesse texto.
O tipo de texto que me faz querer conhecer o lugar a que se refere (2)
😂
O tipo de texto que me faz querer conhecer o lugar a que se refere.