Souvenir #10 - Siga em direção à miragem chamada vida dos sonhos
5 coisas negativas sobre o sabático (que absurdo!)
A vida é uma mistura de “Deus me livre, quem me dera”. E finalmente realizar algo que desejamos muito não está imune às dificuldades que enfrentamos no período compreendido entre nosso nascimento e nossa morte, vulgo, nossa vida.
Com base em dados nunca registrados, eu posso afirmar que 99,99999% das pessoas que souberam que eu ia “tirar um sabático” me disseram que esse era o seu sonho. E eu entendo, afinal ficar sem trabalhar por um período para viajar é realmente uma ideia linda de viver (não foi à toa que decidi, inclusive).
Dia desses, li um texto do Mateus Camillo, da No Direction Home, em que ele discorre sobre coisas negativas de ser nômade - como gastar uma quantia obscena de dinheiro com amaciante e sabão em pó, já que são itens que não fazem parte de sua bagagem rotineira. Gostei tanto da abordagem dele que me inspirei a compartilhar um pouco do lado desanimador de uma viagem de período sabático (em formato de lista, porque eu estou nessa fase). Vamos lá.
5 coisas negativas sobre o período sabático
Uma longa viagem é mais cansativa do que se pode imaginar. Depois de um tempo, você vai estar podre, acabado, o “pó da rabiola”. Tudo o que vai querer é uma cama quentinha, uma TV com netflix e comida pronta. E, mesmo sabendo de tudo que vem pela frente, é exatamente o pequeno descanso que te recarrega, que te dá ânimo e energia para continuar. Tomar a decisão de seguir, de novo e de novo e de novo. Pegar a estrada quantas vezes for necessário, até dizer chega. Em resumo, você estará o tempo todo buscando equilíbrio entre o tempo, sua saúde financeira, física e mental.
Você verá seu precioso dinheirinho indo embora, dia após dia. Olha, essa dói mesmo. Bom, considerando que em um sabático a ideia é de fato não trabalhar, você passa a conviver com a realidade de ver sua conta bancária diminuir mês após mês. No meu caso, ainda que eu tenha feito um planejamento financeiro para bancar o desemprego durante a viagem, no início, foi bem esquisito e doloroso viver apenas gastando e pagando conta. Precisei me ajustar a essa nova condição e não deixar essa sensação desagradável atrapalhar a viagem.
Você nunca mais vai ver a maioria dos amigos que fez viajando. Por mais que a gente se apegue a essas novas pessoas, a viagem precisa seguir e é difícil garantir que as estradas vão se cruzar novamente. Claro que existem pessoas que conhecemos durante o sabático que conseguimos levar para outros momentos da vida. Mas, acredito que esses casos são exceção. Com o tempo, aprendi a enxergar um outro lado dessa situação recorrente. A parte boa de reconhecer a fragilidade dessas relações é que você acaba aproveitando melhor os novos amigos, como se todo encontro fosse uma despedida, e todo momento compartilhado fosse o último.
Se você viajar por diferentes países, vai se deparar com o frequente sentimento de que está perdendo dinheiro ao fazer câmbio (e provavelmente está mesmo). Não adianta, sempre aparece um bendito ser humano para jogar na sua cara que encontrou em tal lugar, em tal banco, no raio que o parta, uma cotação melhor que a que você conseguiu. É um fato, isso vai acontecer.
Os imprevistos vão te achar. Não importa o quão planejado, correto ou prevenido você seja. Sua hora vai chegar. O celular vai quebrar, você vai perder o ônibus, vai destruir um pneu ou estragar a geladeira do motorhome (relato pessoal essas duas últimas). E prepare-se, a regra é clara: quando o perrengue vem, o dinheiro vai (e vai voando).
Bônus: A saudade é constante. Ficar longe da família e dos amigos acho que é a parte ruim mais óbvia de uma longa viagem, e por isso nem inclui na lista. Mas, quero registrar que, com o tempo, essa dor passa a incomodar menos. Não sei se é a gente que se acostuma ou se, simplesmente, aprendemos a lidar. Seja qual for a razão, esse é um sentimento que vai crescendo, tem um ápice, diminui um pouco e depois segue como uma linha constante, previsível.
Nota: Essa lista não é exclusiva de um sabático. Qualquer pessoa que decida viajar por um longo período, um nômade digital, por exemplo, pode se deparar com as situações que descrevi (talvez não o item 2 para os nômades, eu espero).
Eu poderia, facilmente, dobrar essa lista, talvez até triplicar. Ainda assim, não encontraria vestígio algum de arrependimento da decisão privilegiada que tomei há alguns anos. A vida é uma mistura de bom e ruim, doce e amargo, alegre e triste, dia e noite - não importa onde você esteja ou o que esteja fazendo. Eu divido aqui um pouco do meu recorte.
O sabático não é diferente, muito menos viajar. A dificuldade evidencia o lado humano de viver nosso tempo como uma experiência e de assumir alguns riscos em busca do frio na barriga.
Um dia a gente acerta, no outro, nem tanto. E, como dizem por aí, vida que segue. Sem surto. No fim das contas, tudo é passageiro.
A realização de um sonho está longe de ser a vida dos sonhos.
Eu acredito na vida real, pé no chão. Em que os problemas surgem e a gente resolve. Em que a gente corre atrás do que quer. Em que a gente não está pronto, mas em evolução constante.
Eu já imaginei a minha vida dos sonhos. Um exercício que me fez ter coragem pra dar alguns passos mais ousados e repensar minhas escolhas. Eu gosto de ter essa idealização e revisitá-la com o tempo pra entender as minhas conquistas e mudanças.
Mas, não me deixo iludir. Eu deixo a vida fluir. Dando meus passinhos em direção a essa miragem chamada vida dos sonhos. Uma caminhada que me proporciona as mais belas paisagens.
Por onde e para onde os seus passos estão te guiando?
🧩 Agora é sua vez…
Você pode me dizer o que achou sobre o texto, OU…
Me conta, o que você acha de pessoas que respondem apenas com emojis?
Eu ainda não defini meu pensamento, até mesmo porque, às vezes, eu sou essa pessoa. Tenho duas suspeitas, quando a pessoa usa somente emoji como resposta ou 1) ela quer encerrar a conversa/assunto ou 2) ela realmente não sabe o que dizer com palavras. Qual a sua opinião?
💡 Inspire-se…
Ted Lasso foi o motivo de eu ter assinado a Apple TV. E valeu cada centavo dos R$ 14,90 que paguei mensalmente por um tempo.
Esse texto do Dimitri Vieira sobre a série está incrível e não contém spoiler, caso você ainda não tenha assistido a Ted Lasso.
Chegamos a edição #10. Que alegria e orgulho de mim! Clique aqui para ler as edições passadas.
A vida é curiosa: passei pelos dois últimos meses mais corrido do que gostaria. E deixei algumas leituras atrasadas, que estou tirando agora. Fui indo dos mais novos para os mais velhos seu, pulei um sem querer, e era justamente o que mencionava a No Direction Home. Muita alegria e responsabilidade ser citado numa das news mais legais de reflexões sobre viagens.
Cada texto melhor que o outro! Parabéns irmã, só me enche de orgulho. AH, DE NADA por Ted Lasso.